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quarta-feira, janeiro 19, 2005

As palavras

Não é a poesia que movimenta este Blog, mas a temática dos sentidos.

Quis a imprevisibilidade que vos trouxesse, quase de seguida, dois poemas, dois poetas. Duas obras que admiro. Eugénio de Andrade faz 82 anos. E este é um poema que fala da poesia.



As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

José Fontinhas A.K.A Eugénio de Andrade